Metade
dos docentes no país não recomenda a própria profissão
Falta confiança entre professores e secretarias de
educação, dizem
Publicado
em 30/07/2018 - 11:26
Por Leandro
Melito – Repórter da Agência Brasil Brasília
No Brasil, metade dos professores
não recomendaria a um jovem se tornar educador, por considerar a profissão
desvalorizada, revela a pesquisa Profissão Docente, iniciativa da organização
Todos Pela Educação e do Itaú Social.
De acordo com o levantamento feito
pelo Ibope Inteligência em parceria com a rede Conhecimento Social, a maioria
(78%) dos professores disse que escolheu a carreira principalmente por aspectos
ligados à afinidade com a profissão. Entretanto, 33% dizem estar
totalmente insatisfeitos com a atividade docente e apenas 21% estão totalmente
satisfeitos.
Durante a pesquisa, foram
entrevistados 2.160 profissionais da educação básica em redes públicas
municipais e estaduais e da rede privada de todo o país, sobre temas como
formação, trabalho e valorização da carreira. A amostra respeitou a proporção
de docentes em cada rede, etapa de ensino e região do país, segundo dados do
Censo Escolar da Educação Básica (MEC/Inep).
Professores dizem que falta continuidade de boas políticas e alinhamento
dos programas educacionais com a sala de aula - Arquivo/Agência Brasil
Para o diretor de políticas
educacionais da organização Todos pela Educação Olavo Nogueira Filho, os dados
são preocupantes. Ele reforçou a necessidade de repensar a valorização da
carreira dos professores brasileiros. “Há bastante tempo conhecemos o desafio
da desvalorização docente, da falta de prestígio em relação à carreira, mas
acho que os novos dados chegam para reforçar e, mais uma vez, mostrar que temos
um longo caminho a ser trilhado na educação, no que diz respeito à valorização
da carreira”, afirmou.
Formação
Os docentes apontam como medidas
mais importantes para a valorização da carreira, a formação continuada (69%) e
a escuta dos docentes para a formulação de políticas educacionais (67%). Eles
consideram urgente a restauração da autoridade e o respeito à figura do
professor (64%) e o aumento salarial (62%).
Para o diretor Nogueira Filho, os
números passam relevante mensagem no sentido de desmistificar o senso comum,
que coloca a questão salarial como o principal problema para a carreira docente
no país.
“O debate, de modo geral, tem
colocado ênfase, de maneira quase isolada, na questão salarial. E, de fato,
esse ponto surge no conjunto das principais medidas que as pessoas entendem
como importantes para valorizar a carreira, mas não aparece na pesquisa como fator
principal. Acho que isso traz uma questão importante sobre a discussão da
valorização], que precisa ir além da questão do salário.”
A remuneração média dos
professores no Brasil atualmente, segundo a pesquisa, é de R$ 4.451,56. A
maioria dos docentes (71%) tem a profissão como principal renda da casa e 29%
afirmam ter outra atividade como fonte de renda complementar.
Dados mostram que a falta de confiança entre o professor e as
secretarias estaduais e municipais de educação é desafio a ser enfrentado - Marcello
Casal jr/Agência Brasil
Segundo a pesquisa, um em cada
três professores tem contrato com carga horária de menos de 20 horas semanais,
o que pode ter impacto na renda e no cumprimento de um terço da carga
horária, prevista na Lei do Piso do Magistério para atividades extraclasse.
Pelo menos 58% dos professores afirmam ter tempo remunerado fora da
sala de aula. Contudo, somente cerca de 30% dos docentes dispõem de
aproximadamente ou mais de um terço da carga horária para planejamento de aula.
Políticas públicas
Os professores ouvidos pela
pesquisa consideram que é papel das secretarias de Educação oferecer
oportunidades de formação continuada (76%), mas não concordam que programas
educacionais, como um todo, estejam bem alinhados à realidade da escola (66%).
Apontam a falta um "bom canal de comunicação" entre a gestão e os
docentes (64%), e dizem que não há envolvimento dos professores nas decisões
relacionadas às políticas públicas (72%). Também consideram aspectos ligados à
carreira mal atendidos, como o apoio à questões de saúde e psicológicas (84%) e
ao salário (73%).
Falta de confiança
Para o diretor de políticas educacionais da
organização Todos pela Educação Nogueira Filho, os dados mostram que a falta de
confiança entre o professor e as secretarias estaduais e municipais de educação
é outro desafio a ser enfrentado. “Uma parcela significativa dos professores
diz não acreditar que a secretaria tem lançado mão de políticas que tenham
aderência à sua escola e, mais do que isso, mostram descrença com relação ao
próprio compromisso da secretaria para com a aprendizagem dos alunos”.
O governo federal anunciou, em fevereiro deste ano,
o aporte de R$ 1 bilhão para
a Política Nacional de Formação de Professores, com objetivo de financiar 190
mil vagas em três diferentes iniciativas para formação docente: o Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), o Programa de
Residência Pedagógica e a Universidade Aberta do Brasil (UAB).
“São políticas que apontam no sentido correto e
desejável, mas, considerando o tamanho do desafio, é razoável dizer que são
insuficientes para, de fato, reverter o cenário que a pesquisa traz no que diz
respeito à valorização da profissão, das estruturas da carreira e a qualidade
da formação, tanto do ponto de vista inicial quanto continuado”, disse.
O diretor ressaltou a necessidade de mudança
estrutural na formação inicial dos docentes. Na sua opinião, o governo
federal pode ter papel importante na indução de melhorias a partir da criação
de parâmetros de estruturação de carreira que possam ser seguidos pelas
secretarias de educação.
Procurados pela reportagem, o Ministério da
Educação e o Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed) não se
manifestaram até o momento de publicação da matéria.
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Edição: Maria
Claudia
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