Montanhistas
celebram história de serra em Minas iluminando trajeto
Publicado
em 30/06/2018 - 19:22
Por Leo
Rodrigues - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
Cerca de 50 montanhistas se
uniram na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, em torno de uma iniciativa
inédita no Brasil. Eles iluminaram o trajeto até o topo da Serra São José,
que divide cinco municípios: Tiradentes, São João Del-Rei, Prados, Santa
Cruz de Minas e Coronel Xavier Chaves. O objetivo era gerar imagens que
contribuam tanto para o debate da preservação ambiental quanto para celebrar a
história da região.
Hoje, atraente ao ecoturismo
devido à sua beleza natural e à concentração de cachoeiras, a Serra de São José
tem importância econômica e histórica para Minas Gerais. Em suas encostas, bandeirantes
paulistas que desbravaram a região encontraram ouro no início do século 18.
Mais tarde, a região sediou diversas reuniões de líderes da Inconfidência
Mineira. Eles se encontravam ao pé da serra, na Fazenda Ponta do Morro, que
pertenceu a Hipólita Jacinta de Melo, a única mulher entre os inconfidentes. A
Serra São José traz ainda resquícios de um tempo histórico, como os acessos a
trechos vicinais da Estrada Real e à Calçada dos Escravos, um caminho de pedras
feito por negros vítimas das escravidão no auge da mineração.
A iluminação foi feita no último
sábado (23) e ocorreu em trajeto que tem início em Prados, município que tem
pouco mais de 8 mil habitantes. A iniciativa, que recebeu o nome de projeto
“Caminho de Luz”, foi idealizada pelo geógrafo Roberto Franco. Ele conta que o
evento gerou grande expectativa na cidade. "As luzes ficaram acessas das
18h às 20h30 e os moradores se mobilizaram para apreciar a cena, que pôde ser
vista de diversos locais. Houve também uma movimentação de diversos fotógrafos
que buscaram pontos estratégicos e os melhores ângulos para fazer as
imagens".
Roberto explica que a iniciativa,
colocada em prática pela primeira vez no Brasil, foi inspirada em experiência
realizada em 2015 no Matterhorn, uma montanha da cordilheira dos Alpes,
localizada na Suíça, perto da fronteira com a Itália. "Lá, a montanha é
mais íngreme, neva e houve apoio de fabricantes de equipamentos de escalada. As
lanternas usadas eram de extrema qualidade. Aqui aproveitamos a cultura de
montanhismo na cidade e fizemos uma grande mobilização de voluntários, sem os
quais não conseguiríamos atingir o objetivo".
Assim como a experiência nos Alpes marcou os 150
anos da primeira expedição ao cume do Matterhorn, a mobilização dos
montanhistas mineiros também celebrou os 150 anos do Passeio à Serra São José,
organizado anualmente por moradores de Prados. A expedição integra o calendário oficial do
município. Segundo Roberto Franco, é o passeio ecológico em montanha mais
antigo do Brasil.
Conservação
O projeto “Caminho de Luz”
recebeu o apoio estrutural da prefeitura de Prados e do Instituto Estadual de
Florestas (IEF-MG), órgão que é responsável pela gestão e conservação da Área
de Proteção Ambiental (APA) da Serra São José. "Tudo o que aumenta a
visibilidade da unidade de conservação contribui e chama atenção para a
importância da preservação. Tomara que aconteça novamente nos próximos
anos", diz Itamar Christófaro Silva, gerente da APA.
Segundo ele, há uma preocupação
permanente com incêndios que ocorrem no período mais seco da região, entre
agosto e outubro, e os casos quase sempre são decorrentes da ação humana. Uma
média de 150 hectares são atingidos anualmente, mas as ocorrências vêm se
reduzindo devido ao trabalho de prevenção e patrulhamento. Itamar afirma que as
principais causas observadas são a ação ilegal de criadores de cavalos, que
invadem áreas de propriedades alheias, e o descontrole do fogo ateado a lotes.
Ele destaca, porém, que os proprietários de fazendas próximas à Serra São José
estão deixando de recorrer a queimadas nos últimos anos.
"A evolução da
conscientização da população tem ajudado. De 2016 para 2017, houve redução de
aproximadamente 30% de área queimada. O que não significa que não possamos
ainda ter grandes incêndios, pois depende muito das condições do clima, do
vento, de onde se inicia", diz o gerente.
De acordo com o IEF-MG, a Serra
de São José tem rica biodiversidade, reunindo ambientes com vegetação distinta,
incluindo áreas de Mata Atlântica, cerrado e campos rupestres. O órgão estima
que a região serve como habitat para cerca de 120 espécies de libélulas, o que
representa quase 50% de todas as espécies conhecidas em Minas Gerais e 18% das
mapeadas no Brasil. Além disso, ela abriga aproximadamente 240 espécies de
aves, 80 de orquídeas e, pelo menos, nove de mamíferos, algumas delas ameaçadas
de extinção como o lobo-guará e algumas espécies de primatas.
Edição: Graça
Adjuto
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